Peça para gamba solo
…para a Carolina.
Carolina Schwäbl-Martins - Viola da Gamba e Vídeo
João Caldas - Composição
Florian Götz - Gravação de Som
Murmúrios da Terra foi criada com (e para) a Carolina Schwäbl-Martins, num ambiente semelhante ao de uma residência artística, criando directamente com o instrumento e o seu material sonoro, sem a necessidade de uma partitura enquanto intermediário de comunicação.
Esta peça tenta pôr em foco não só as características únicas do som da viola da gamba, mas também a voz e sensibilidade (também únicas) da Carolina.
O vídeo foi concebido por ambos mas filmado e concretizado pela Carolina. Tentou-se capturar em imagem uma dimensão abstracta da viola da gamba com vista a alcançar uma intimidade imanente ido próprio instrumento.
Inserindo-se no espírito da rádio-arte, Plunderphonics e Musique Concrète, Klangfluss 1 é uma compilação de ideias enquanto palavras, palavras enquanto sons e sons enquanto ideias. Acima de tudo, porém, esta peça convida ao acto de ouvir o som em si mesmo. John Cage é um elemento central formativo para esta peça.
A minha função nesta peça é relacionar, contrastar, intersectar diferentes elementos - agindo essencialmente como um curador - criando um contexto diferente do original para os sons recolhidos.
Segue-se a lista de sons utilizados:
Francisco López — untitled#163 [for Pierre Schaeffer] (2004)
João Caldas — Gravação de sinos de igreja
João Caldas — Gravação de moinho de vento
João Caldas — Gravação de cafeteira a ferver
José Mário Branco — A Mãe - De maio (1978)
Pedro Costa — Où gît votre sourire enfoui? (2001) - Jean Marie Straub und Danielle Huillet re-editam o seu filme Sicilia!
Morton Feldman — Piano and String Quartet (1985)
John Cage & Morton Feldman — Radio Happenings - Conversations: Recorded at WBAI New York City, July 1966 to January 1967
John Cage - Bird Cage (1972)
João Caldas — Gravação de piano com e-bows
Alvin Lucier — Still and Moving Lines of Silence In Families of Hyperbolas (Voice)
Charlie Chaplin und Leo Daniderff - Nonsense Song do filme Modern Times
Reinhard Elsner — Musik im technischen Zeitalter: John Cage (1965)
GAC Grupo de Acção Cultural — Pois Canté! - Cantiga sem Maneiras (1976)
Abbas Kiarostami — Dah (2002)
Ghédalia Tazartès — Repas Froid (2009)
Karin Edvardsson Johansson und Elin Lisslass — Lockrop & Vallåtar - Ancient Swedish Pastoral Music (1995)
Inuit du Caribou, Netsilik et Igloolik — Canada - Jeux Vocaux Des Inuit (1989)
José Mario Branco — A Mãe - Cantiga de alevantar (1978)
Ghédalia Tazartès — Diasporas - Un amour si grand qu'il nie son objet (1977)
Peça para orquestra sinfónica
Orquestra Fundação Calouste Gulbenkian
José Eduardo Gomes - Direcção
João Caldas - Composição
Peça vencedora do 1º prémio da 10ª Edição do Prémio de Composição SPA / Antena 2.
Apneia foi escrita sobre a premissa de um discurso narrativo que colapsa, dando lugar a um terreno não narrativo e suspensivo. Este discurso consiste na justaposição de dois blocos/materiais (A e B) com qualidades opostas: A é cumulativo e expansivo, B é aberto e desinente; A cria tensão, B cria distensão; A é movimento, B é paisagem; A é inspiração, B é expiração.
Depois de um momento climáctico onde os dois materiais se sobrepõem, a música colapsa e entra num ambiente suspensivo, num limbo temporal não narrativo onde não existe tensão nem distensão — apneia.
Peça para 1 percussionista e percussão de metal
… para o Francisco.
Miguel Curado - Percussão
João Caldas - Composição
A Sombra de Pitágoras foi criada com (e para) o Francisco Cipriano, num ambiente semelhante ao de uma residência artística, criando directamente com o instrumento e o seu material sonoro, sem a necessidade de uma partitura enquanto intermediário de comunicação. Um registo gráfico desta peça foi escrito posteriormente (2021) à performance da peça, registo esse que não tem pretensão de ser partitura fixa, mas sim um esboço de trabalho para performances futuras. Foi o primeiro projecto pessoal inserido neste processo co-criativo sem intermediário de partitura.
Esta peça surge no seguimento de uma pesquisa prática por diferentes técnicas em arquear pratos, e de um fascínio pelo som, aparentemente indomável, destes instrumentos.
Pede-se, nesta obra, um dispositivo cénico em que o percussionista é tapado por um biombo, e a única fonte de luz usada ser um candeeiro colocado imediatamente atrás do biombo (infelizmente, perdeu-se o registo da performance com a concretização cénica). O resultado é um efeito acusmático (a fonte do som torna-se escondida), e um jogo de sombras abstracto. Deste dispositivo nasce o título da peça — uma referência a Pitágoras, figura proeminente no estudo dos aspectos físicos e místicos do som, e à lenda dos akusmatikoi: alunos de Pitágoras que ouviam o mestre atrás de um véu para melhor escutar as suas palavras.